Achados Arqueológicos na R. Direita n.º 37-41

20/11/2019

No âmbito dos trabalhos de reabilitação do imóvel, propriedade do Fundo Coimbra Viva, sito na Rua Direita n.º 37-41, foi efetuada uma intervenção arqueológica que visou a deteção atempada de eventuais vestígios arqueológicos e patrimoniais e a caracterização crono-cultural desse local.

Este imóvel está inserido numa zona que integra a zona tampão da área classificada como património mundial da UNESCO e é parte integrante do que hoje é conhecido pela Baixinha de Coimbra e onde outrora se concentraram as classes e atividades ligadas aos ofícios e ao comércio cidade.

A construção do imóvel dataria de 1743, como atesta o brasão que pontifica na fachada principal e, dos aspetos construtivos, destaca-se a identificação da estrutura da Runa edificada provavelmente no século XVI, e que ainda hoje serve parcialmente para condução de águas e saneamento da cidade.

Os trabalhos arqueológicos foram executados pela empresa Palimpsesto, tendo sido identificadas várias calçadas e muros de construções pré-existentes já de época moderna e contemporânea, presumivelmente relacionados com as atividades ligadas ao comércio e ofícios que ali se desenvolviam. A sobreposição destas estruturas estará certamente relacionada com sucessivas alterações e remodelações dos espaços.

O espólio recolhido é muito diversificado, contendo recipientes variados como pratos, vasos, púcaros, mas também botões, moedas, alfinetes, estatuetas, entre outros, encontrando-se neste momento a ser tratado e será posteriormente entregue à guarda da DRCC – Direção Regional de Cultura do Centro. As matérias-primas também são diversas, desde a cerâmica, nomeadamente faiança, líticos, bronze e ferro.

Destas peças destacam-se a presença de várias moedas do século XVII, XVIII e XIX, uma peça de estatuária em cerâmica que seria um relicário e uma taça de faiança com a marca S.F., que corresponderá à marca do convento de São Francisco.

Pela sua singularidade salienta-se ainda a presença de fragmentos de azulejaria mudéjar (reutilizados) de fabrico atribuível à primeira metade do séc. XVI. Provavelmente terão sido importadas de Sevilha em 1503 por parte da Sé Velha de Coimbra, tratada pelo escultor flamengo Olivier de Gand, que foi a Sevilha, ao bairro de Triana, comprá-los a Fernan Martinez Quijarro e Pedro de Herrera, por 20 mil maravedis (VASCONCELOS, 1930). Os fragmentos registados são também similares aos existentes na Casa de Pilatos, em Sevilha, datável do final do séc. XV, princípios do XVI.

Em virtude destes achados arqueológicos, o Fundo Coimbra Viva procedeu à alteração do projeto de reabilitação inicialmente previsto para este imóvel, de forma preservar a integridade desta estrutura.

Este imóvel é constituído por uma loja com 40 m2 e um T2 Triplex com 151 m2, podendo ser consultado aqui.

Legenda:

1- Estatuária religiosa.

2- Fragmento de azulejo mudéjar.

3- Relicário em estatuária.

4- Conjunto de dois botões, um alfinete, e três numismas, em cobre. Anverso de V Réis em cobre da primeira metade do séc. XVIII, Anverso de Halfpenny de 1806 e Anverso de X Réis de 1882.

5- Taça fundo anelar e marca S.F. Provável marca do Convento de São Francisco.